Cesaca, Cecrisa, Ceusa, Eliane: vão-se anéis, ficam digitais

Na mídia local, prevalece o esquecimento

21 Outubro 2018 | Domingo 20h45

"Se ele estivesse vivo, a gente tinha tirado o pé do acelerador bem antes."

A declaração me foi feita nos anos 90 pelo empresário filho de um dos grandes empreendedores do setor cerâmico no sul de Santa Catarina.
 
Com ares de autocrítica, arrependimento e remorso, a frase explicava a fase pré-falimentar de um megagrupo empresarial.
 
Desde os anos 90 e vencida a turbulenta Era Collor, o segmento de revestimentos cerâmicos vivenciou um longo estágio de altos e baixos, predominando a agonia.
 
O que me causou surpresa na incorporação da Eliane pelo conglomerado estadunidense Mohalk ("moicano", em inglês), anunciada na sexta-feira, foi a falta de memória na mídia local.
 
Grifes de revestimentos para chão e parede no Brasil e em grande parte da América, tanto Cecrisa quanto Eliane nunca dependeram da apresentação de currículos. Cecrisa e Eliane falavam por si.
 
Foi o que levou a Vinci Partners, uma puta gestora de investimentos, a adquirir 70% da Cecrisa em junho de 2012 por R$ 250 milhões.
 
Quase 30 anos antes, em 1986, a Cecrisa já havia incorporado a Cesaca, uma indústria de porte bancada pelo empresário Jorge Cechinel.
 
Bem mais tarde, em 2015, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovou a incorporação de 25% da Eliane por um fundo de investimento chamado Kinea. Abriu-se ali a negociação além-fronteiras.
 
Em agosto do ano passado, a Duratex de São Paulo comprou 100% da Ceusa por R$ 280 milhões.
 
Desconheço quanto foi ou será pago pela Mohalk, mas vale recordar que também em 2012 a empresa da família Gaidzinski flertou, noivou e quase casou com a Portobello.
 
"O que estamos vendo corresponde a uma tendência de concentração de capitais", avalia um analista do mercado cerâmico consultado pelo blog que prefere o anonimato.
 
"O que me parece mais interessante é a entrada de capital internacional em um setor predominantemente nacional. Se esta compra inaugura um novo ciclo, só o tempo dirá."
 
Chances de ocorrerem novas incorporações, adicionou outra fonte, são palatáveis. "Quando falamos de investidores, estamos falando de quem compra para vender e tirar o investimento."
 
O que importa, acrescentou, é que 2018 foi um "ano de retomada para as empresas cerâmicas brasileiras. Houve uma alta muito grandes nas vendas, o que gera um momento favorável para incorporações."
 
Cecrisa, Cesaca, Ceusa, Eliane. Vão-se os anéis, ficam as digitais de Maximiliano Gaidzinski (Eliane), Jorge Cechinel (Cesaca), Diomício Freitas (Cecrisa) e Manoel Francisco de Oliveira (Ceusa).

Que hora extraordinária para  a mídia local lembrar sem puxa-saquismo barato e oportunista o espírito empreendedor que um dia habitou esta terra, este chão e estas paredes.

Triste momento em que negócios e egos prevalecem e a história, de novo, sucumbe ao esquecimento.
 
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