De Tubarão a Criciúma, dos bares ao Lanchão

Até pub underground na vida de Vitorino Fernandes

03 Abril 2021 | Sábado 18h36

Inquieto e talvez hiperativo, com certeza apaixonado pelo que sabia fazer. Nada traça melhor o perfil do empresário Vitorino Gomes Fernandes para referendar sua histórica presença no ramo de bares, cafés e restaurantes no sul de Santa Catarina.
 
A relação com o setor espraiou-se por Tubarão a partir de 1947 quando abriu o Bar e Restaurante São Luiz na movimentada Rua Lauro Müller. Regina, Glória, São Geraldo, Bar dos Radialistas e um enigmático Bar 5 a 2 foram nomes que se revezaram por ali nos anos seguintes.

Rua Lauro Müller (beira-rio)  em 1973 com Hotel Mussi ao fundo / Cortesia: Grupo Memórias de Tubarão SC e Região (Facebook)
"Naquele domingo em que o Brasil disputou a final da Copa de 58 com a Suécia, a gente estava arrumando mesas e cadeiras para a inauguração", esclarece o filho Vanderlei, único filho numa família de cinco filhas.

"O rádio estava no volume alto e apesar da porta pela metade o pessoal foi entrando. Quando o jogo terminou, alguém falou que o nome do bar tinha que ser 5 a 2. O pai aceitou na hora", lembra rindo.
 
BICICLETAS, A EXCEÇÃO
Vanderlei atribui ao faro do pai para negócios as sucessivas trocas de nomes e endereços. "Às vezes, ele mudava para poucos metros adiante porque sempre surgiam propostas de compra do ponto. Vendia aqui, pegava a grana e reinvestia ali."
 
Entre os anos 50 e 60, a vizinha São Manoel, a "rua do cinema", rivalizou com a Lauro Müller como opção para o empresário. De 1960 a 67, o Lanches Bar Taíse ocupou parte da Galeria Pio 12, período em que ele manteve outros estabelecimentos.
 
Na única vez em que se afastou das mesas, trabalhou poucos meses na loja Santa Fé, referência no segmento de bicicletas. "Ele organizou uma promoção tão bem sucedida que nem descarregaram o caminhão. Venderam e entregaram as bicicletas na rua", recorda Vanderlei.
 
NO SUBSOLO
No início de 1969, pai, filho, esposas e parte da família trocaram Tubarão por Criciúma. "Arrendamos o Café São Paulo em abril e ficamos ali até julho de 73. Inauguramos o Lanchão Restaurante e Lanchonete no dia 1º de setembro com várias autoridades."
 
Vanderlei ao fundo na porta do Café São Paulo em 1971 / Arquivo familiar
Mix de tudo e mais um pouco no subsolo de um prédio na Conselheiro João Zanette, hoje acesso ao Terminal Central, o Lanchão caiu nas graças gerais. Adolescentes lotavam nas tardes de domingo, adultos o convertiam em "pub underground" nas noites.

Design interior do Lanchão e no destaque (e/d) Seu Vitorino e o filho Vanderlei.

Na inauguração, foto acima (e/d): radialista Antônio Luiz (rádio Eldorado), padre Arcângelo Bussolo,  Seu Vitorino, gerente dos Correios, Apolinário Tiscoski,  e radialista Darciony Silva (rádio Difusora)  / 1º set 1973.
Ex-deputado Paulino Búrigo e o advogado José Pimentel.

Deputado Ademar Ghisi, delegado regional de Polícia, Helvídio de Castro Veloso, e advogado Benedito Narciso da Rocha.

"A repercussão foi muito positiva, um baita movimento e uma freguesia muito seleta", orgulha-se Vanderlei. "Havia casais que chegavam a pagar gorjeta aos garçons para reservarem mesa aos domingos à noite, após o cinema."




A TRAGÉDIA DE 74
Tudo ia muito bem até que no final de março de 74 o empreendimento sofreu dois abalos. Seu Vitorino foi levado às pressas para um implante de safena em São Paulo e no dia 24, um domingo, o céu desabou no sul do estado.
 
"Tubarão foi arrasada e o centro de Criciúma encheu. A água bateu no teto do nosso restaurante e a perda foi total. Era fim de semana, freezer abarrotado. Só de equipamentos, de refrigerador a liquidificador, foram 26 para o conserto", minucia Vanderlei.
 
Os danos provocaram um lockdown de 19 dias no Lanchão. "Reabrimos na Sexta-feira Santa, mas não conseguimos reverter o prejuízo. No dia 17 de outubro, entregamos para um empresário interessado em assumir o ponto. Ele manteve o nome."
 
Aprovado num concurso da Telesc, Vanderlei mudou-se em 1975 para Lages com a esposa Lurdinha e as duas filhas. Juntos há 55 anos e vacinados, residem no Itacorubi em Florianópolis. "Vou comemorar os meus 80 anos em novembro", antecipa ele.
 
No mesmo 1975, o infatigável Seu Vitorino abriu o último estabelecimento, o Cine Lanches, na frente do Cine Ópera. Durou pouco, mas desta vez por razão distinta. Numa ruptura precoce para a sua geração, descansou aos 60 anos no Domingo das Mães de 1977.
 
A esposa Almerinda, a D. Vida, como era conhecida em Criciúma e Tubarão, faleceu em 1994. Entre as filhas também ausentes, a colunista social Zuleide Fernandes e a ex-primeira-dama de Içara, Tiza Fernandes Pacheco.

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