Há 50 anos, Bob Kennedy era assassinado

08 Junho 2018 | Sexta-feira 10h00

Que tiro foi esse, devem ter se perguntado os simpatizantes de Robert Kennedy mais próximos da porta da cozinha do Ambassador Hotel. Era a noite de 5 de junho de 1968 e desde a véspera a euforia predominava nas primárias democratas em Los Angeles, vencidas pelo senador de 42 anos.
 
Natural de Massachusetts, mas eleito por Nova York, Bob - ou Bobby - trazia na veia o destemor dos irlandeses católicos que ocuparam parte da Nova Inglaterra. Na alma, a dor da perda do mano presidente fulminado cinco anos antes. "A gente se vê em Chicago", despediu-se nos microfones no salão, mas na cozinha o esperava Sirhan Bishara Sirhan. Morreu na madrugada.
 
Aquela foi mesmo uma década marcada por balaços e atentados fatais nos Estados Unidos. Após John Kennedy em 63, vieram Malcom X em 65 e Martin Luther King, dois meses antes de Bob. Malcom e King, importantes ativistas negros do movimento de direitos civis.


O documentário de quatro capítulos em exibição na Netflix distribui pinceladas e personagens. Mais que uma biografia dulcificada, Bobby Kennedy for president (2018)  disseca um ano emblemático para o mundo, do maio francês ao AI-5 brasileiro.

Nada diferente na nação estadunidense sacudida por conflitos externos (guerra no Vietnam) e internos (protestos contra a guerra, segregação racial, repúdio aos imigrantes). Até parece que nossos vizinhos vivem hoje um remake  de outrora.
 
Cada pincelada ora mitifica, ora desconstrói a figura carismática do quase presidente. Os depoimentos partilham uma linearidade temporal de tirar o fôlego. As reviravoltas num avião, no trem da campanha, em carro aberto ou visitando favelas conspurcam uma trajetória predestinada à vitória.

Mesmo quem não se sente à vontade no universo das análises de discurso haverá de isolar o substantivo "compaixão" nas últimas falas de Bob. E foi justamente o que seus adversários lhe negaram. Um dos tiros atingiu a queima-roupa a lateral de sua cabeça.
 
A gente sabe há 50 anos como tudo acabou, mas se deixa - sem querer - trair pela ansiedade e algo mais ao rever o documentário. Daí sucumbir à emoção, inevitável. Nem tanto pelas balas, mas pelas chances perdidas em 1968. Eis aí um ano que, parafraseando Zuenir Ventura, insiste realmente em não terminar.
 
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Entrevista de Sirhan Bishara Sirhan à CNN