Quando a TV reencontra o rádio

No seu centenário, o rádio socorre a TV

12 Abril 2020 | Domingo 18h18

Comentarista político da RBS TV em Santa Catarina, o jornalista Moacir Pereira pegou na unha a função de âncora na programação durante a grande enchente de 1983. Colado ao telefone, entrevistou dezenas de prefeitos. Na tela, um ponto luminoso piscava no mapa estadual sinalizando a cidade flagelada.
 
O recurso empregado por Moacir era novidade no telejornalismo catarinense, mas uma prática de décadas no velho e confiável rádio. Nas tragédias que devastaram Lauro Müller e Tubarão nos verões de 1972 e 74, adultos silenciavam para ouvir entrevistas e balanços atualizados nas emissoras locais.

Desde os primórdios da internet nos anos 90, o telejornalismo ensaiava intervenções ao vivo de entrevistados em suas casas e ambientes de trabalho. Precárias, as imagens lembravam marionetes em movimentos dessincronizados com as falas. Com o tempo, ver e ouvir acasalaram.

De uma década para cá, quem falou de algum lugar atingido por tsunamis, furacões, terremotos ou guerras 
civis ganhou os lares. Como ganharam os jornalistas sob as regras do confinamento ditado pelo Corona. Trabalhando "de casa", interagem com entrevistas remotas, antes opção, hoje compulsórias.

É tal a quantidade de intervenções em tempo real que o outrora pomposo "ao vivo" descambou para banalizadas "lives". Todo mundo faz, quando e de onde pode, o que levou a Folha de S. Paulo a desvelar nessa semana os vários designs de interior (estantes de livros na maioria) com ênfase à luminosidade adequada.

Para jornalistas e telespectadores, a franquia tecnológica é digna de comemorações. Após o pandemônio, claro. Para a história das mídias, é bem-vindo este reencontro seminal de uma TV à meia idade com o ancestral que neste ano - a propósito - comemora seu centenário.

Repórter da RBS TV na mesma enchente de 1983, fui deslocado pelo diretor Ariel Bottaro Filho de Blumenau a Rio do Sul num sábado, pouco antes da ponte entre as duas cidades ser levada pelo Itajaí-Açu. Sem condições de gerar imagens, conheci um radioamador com amigos na Capital.

No intervalo do Fantástico daquele domingo, os telespectadores viram o mapa de SC e ouviram meu dramático relato sobre os estragos. Num dos cantos da tela, uma foto 3x4 minha. Noutro, uma luzinha piscando indicava onde ficava Rio do Sul.

Pelas ondas curtas, o velho e confiável rádio já era parceiro do telejornalismo. Meu parça desde então, sublinho.

CONTATO BLOG
neimanique1956@gmail.com