Rawell, o Afortunado

06 Maio 2018 | Domingo 07h45

Publicado em 25 mai 14.

Maio está nos deixando e espero que a última semana nos prive de novos sobressaltos. Foram vários. Um exemplo: em qualquer lugar do planeta, ir a um estádio de futebol representa hoje em dia o risco - ínfimo, vá lá - de não voltar pra casa.


Morre-se numa batalha entre torcedores ou por uma bala perdida nos entornos, mas ser assassinado por um vaso sanitário, como no Recife, tenham dó. A um mês da Copa, deu pra conferir a repercussão internacional.

Maio registrou greves, manifestações, depredações, saques, veículos incendiados e assaltos numa escala tenebrosa. A ação de uma quadrilha num ônibus de Floripa a Criciúma foi sintomática do infortúnio e mal-estar que vivemos.

Diluído nesse cenário tenso, o caso do sequestro de um leão projetou-se tão bizarro quanto um dos raros a ter um final feliz. A primeira notícia revelou que Rawell, nome da fera, fora sequestrado no interior de São Paulo. Mas, matutei, como se sequestra um leão?

Na natureza, leões vivem até os 15 anos. Em cativeiro, mais de 20. Rawell tem nove, o que me permite compará-lo a um jogador de futebol maduro, mas ainda cheio de vigor e que inspira respeito nos adversários. Uma espécie de Paulo Baier das savanas. Agora imaginem sequestrar um "Paulo Baier enjaulado".

Lembrei-me logo do argentino Gardelón, personagem de Jô Soares na TV no início dos anos 80. Convocado para resolver impasses complicados, ele antes traduzia de maneira fácil a missão impossível. Depois, declinava.

"Entonces", diria Gardelón no caso de Rawell, "eu estouro o cadeado, abro a jaula, puxo o bicho pela juba, amarro as patas, coloco no banco de trás e trago para cá?" Simples assim, responderia atualmente o amigo "muy, muy amigo".

Como todos ficaram sabendo, Rawell na verdade foi sedado pelo seu antigo dono e levado da sede de uma ONG para Maringá. Assim que as investigações terminaram, a Justiça determinou que fosse transferido para o zoológico de Curitiba.

A última notícia que li foi que ele está bem. Recuperou o peso, já recebe visitas e para completar a afortunada mudança em seu padrão de vida ganhou a companhia de duas leoas mais jovens.

Isso mesmo, duas ninfetas, e tudo porque foi vítima de um sequestro.

Numa época em que a onda de criminalidade e impunidade torna insuportável a vida no Brasil, Rawell escapou das estatísticas e se deu bem.

Uma pena que a sua sorte ou o seu bem-estar nada tenha a ver com o tal legado da Copa. Já seria alguma coisa.

(Imagem / Divulgação)