A calcinha na cozinha

Peça íntima ganhou fama até no submundo

27 Março 2022 | Domingo 10h09

Imagem / Divulgação / Mercado Livre (link)Estatisticamente falando, sao altas - para não dizer altíssimas - as chances de se encontrar uma calcinha no lixo de um banheiro.

E... numa lixeira de cozinha?
 
A inquietante pergunta quase me nocauteou num carnaval em que dividi com casais amigos o aluguel de uma casa em Laguna. Preparava meu último café da manhã e, de repente, dei com ela semienrolada na lixeirinha da cozinha.
 
Entender como aquela calcinha fora parar ali produziu uma abilolada reflexão. Que mulher levanta da cama ou sai do banho e decide: acho que vou lá na cozinha descartar esta calcinha. Não faz sentido. Nem para roteiro de filme sueco.
 
Derivei para uma libidinosa cena tão comum nos folguedos de Momo. Um dos casais retornou pilhado da rua e atracou-se na cozinha.

Jactando-se em prazeres, pudores pra quê? Afinal, se tirou a calcinha, ela que fique por ali mesmo.
 
A elaborada análise se apoiaria noutro pilar das Ciências Exatas. Calcinha é "underwear", isto é, "roupa de baixo". O que, estatisticamente de novo, me leva a crer que numa lixeira de banheiro é possível encontrar também uma cueca.
 
Calcinhas, porém, transitam num ambiente onde a feminilidade se unge de delicadeza e sensualidade, permeadas por tirinhas, lacinhos e rendinhas. Os diminutivos aqui espelham uma evolução, como sabemos. De calçolas de tempos idos tornaram-se mínimas para revelar o máximo.
 
Em meados dos anos 80, Kátia Flávia, a Godiva do Irajá converteu-se num dos primeiros raps brasileiros a viralizar nas ondas do rádio. Na voz de Fausto Fawcett, a reduzida indumentária mostrava-se fatal como um míssil Exocet.
 
A peça íntima ganhou fama até mesmo no submundo. Há muito se fala de velhotes tarados que pagam fortunas por - pasmem - calcinhas usadas. A série Orange is the New Black dedicou vários episódios a esse "comércio".
 
Por isso, a suposta equivalência de calcinhas e cuecas termina num mero segmento do vestuário. Se achar uma calcinha numa lixeira de cozinha gerou surpresa, acionou a imaginação e rendeu este ensaio, dar de cara com uma cueca ali teria outro desfecho.
 
Um inquérito policial seria pouco. Uma rigorosa e sumária investigação chegaria logo ao autor do descarte. As masmorras, com toda a certeza, restabeleceriam a decência, a sensatez e a civilidade. Ou pelo menos o que restou de cada uma delas.
 
(Ao David, pelos anos de risos que ainda virão)
 
 
CONFIRA TAMBÉM!
 Um sexagenário flamboyant na Henrique Lage
 Entre a ética e o esquecimento

CONTATO BLOG
neimanique1956@gmail.com