Marcas urbanas no legado Frydberg

Judeus, poloneses e francês no DNA de duas gerações

03 Setembro 2020 | Quinta-feira 10h58

Inquieto e fumante inveterado definiam em rodas amigas o perfil do engenheiro civil Jorge Zenon Henrique Frydberg, precocemente falecido aos 54 anos em 1972. Nas redes atuais, nem sempre sociais, lhe caberia melhor o surrado epitáfio de "homem muito à frente de seu tempo". Pois foi.
 
Que o diga sua residência de verão erguida em madeira a três metros do solo no início dos anos 40 na então Praia do Rincão. Uma das primeiras casas planejadas no balneário, destacava-se na ruela principal da primeira igrejinha - hoje Rua Florianópolis - ao perfilar com as de vizinhos amigos e do sogro.


 

Filho único e francês por acidente, Jorge nasceu em 1918 em Montpellier, onde os pais Henryk e Maria - judeus poloneses - cursavam medicina e se especializaram em ginecologia e obstetrícia.
 
Talvez por antever em uma década o que ocorreria na Europa, o casal optou pela América em 1924. O primeiro destino foi a Argentina. Mera escala. A opção definitiva mirou o Rio Grande do Sul, instalando-se em Passo Fundo.

FATALIDADE
A reputação positiva deu lugar a uma tragédia. Inconformado com a morte do bebê durante o parto, um pai disparou à queima-roupa contra a médica. Detalhe: o parto fora feito pelo marido. Viúvo, Henryk mandou o filho estudar em Porto Alegre.
 
Graduado em engenharia em 1939, Jorge foi logo contratado por uma carbonífera de Criciúma. No período em que atuou por poucos anos na mineradora, conheceu e casou com Maria Carmen Carneiro, filha de portugueses.
 
Sem muita afinidade com o segmento carbonífero, o engenheiro migrou para a construção civil. Foram da sua Construtora Cresciumense - assim mesmo, na grafia antiga - várias edificações no centro da cidade, entre elas a que abrigou no térreo o Sete Belo, primeira pizzaria da cidade.
 
À distância do concreto, os legados de Frydberg foram no âmbito familiar. Sua insistência inspirou o cunhado Fernando Carneiro a se tornar o primeiro arquiteto de Santa Catarina. Com a esposa Carmen, teve um casal de filhos, Jorge Henrique, o Jorginho, e Maria Alice.
 
DE BEM COM A VIDA
Graduado engenheiro civil também em Porto Alegre, Jorginho fundiu uma visão humanista à de urbanista. "Anos após a faculdade, fiz um mestrado na Ufrgs porque o mundo empresarial não me atraía. Estava mais interessado no planejamento de cidades boas para se viver."
 
Ao substituir o pai à frente da construtora, apostou alto. Foi dele o primeiro condomínio horizontal fechado de Criciúma, o Irapuá (imagem abaixo), implantado em 1973 entre as Ruas Lauro Müller e Hercílio Luz. Ainda no Centro, vieram os edifícios Milano, Bolonha e Florença no final da Getúlio Vargas.
 

Referência no calçadão do Rincão, o emblemático Edifício México 70 (imagem abaixo) tem sua rubrica. Quando lembra da "casa aérea" no balneário, Jorginho lamenta o tombo na escada. "Eu era muito pequeno e minha mãe exigiu que meu pai descesse a casa. Baixaram inteira com macacos."


Secretário de Planejamento dos prefeitos José Augusto Hülse e Anderlei Antonelli, último presidente da Carbonífera Próspera, privatizada em 1990, ele internalizou uma noção hoje rarefeita na mentalidade nacional. "Um país em que uma criança dorme na rua não pode ser levado a sério", diagnostica.
 
Aos 74 anos, Jorge Henrique Frydberg ou simplesmente Jorginho pode até abrir mão de ser alguém além de sua época. Desconectado dela, nem pensar.

Fotos: arquivo familiar
Imagens / cortesia: Google Street View
 
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