Amar e perdoar... é para os fortes

Homenagem a quem amou e divulgou Criciúma

29 Agosto 2022 | Segunda-feira 11h09

David Coimbra, cidadão e jornalista, falou dezenas de vezes de Criciúma. Sempre bem, claro, mas brincalhão como era - do tipo "dane-se o amigo, a piada antes de tudo" - escorregou feio num programa matinal da rádio Gaúcha.
 
O assunto era o assalto ao Banco do Brasil em Criciúma, madrugada de 1º de dezembro de 2020. Ao ouvir o depoimento de um dos reféns, afirmando terem sido bem tratados pela quadrilha que aterrorizou o Centro da cidade, comentou que os assaltantes tinham sido "bonzinhos".
 
Alguém editou com capricho o áudio. A frase solta de David ganhou as redes. Patrocinadores suspenderam a chancela alegando "apologia ao crime" - sim, publicaram nota a respeito, tachando David de fã da bandidagem.
 
No dia seguinte na Zero Hora, David se desculpou e finalizou o artigo com um excruciante "minha culpa, minha máxima culpa". Não adiantou. Foi quase cancelado porque perdoar, afinal, é para os fortes.
 
Pessoalmente, guardo a suspeita de que o "incidente Banco do Brasil" acelerou o fim de sua até então eficaz imunidade ao câncer. De alegre, expansivo e várias vezes sacana, ficou introvertido. Definhou em poucos meses.
 
Nunca lhe telefonei ou o chamei no cel pra saber como estava porque avaliava ser a pior das perguntas que ele ouvia todos os dias. Em todas as horas. Eu? Eu era o Nei, o amigo, o parça, o comparsa, o mano mais velho, como insistia em me chamar.
 
Quando o visitei, duas semanas antes que ele completasse 60 anos, relembrei inúmeras situações cômicas vivenciadas por nós. Ele riu muito, quase arriou-se na poltrona. "Falei que só viria aqui se te fizesse rir", me justifiquei. "Conseguiste", devolveu.
 
A homenagem de amigos e amigas, o nome de uma rua na cidade, encampada pelo prefeito Clésio Salvaro com apoio unânime de vereadores, não traduz perdão algum. Apenas reconhecimento e agradecimento a quem amou e divulgou Criciúma.
 
Tentar viralizar o oposto... é para os fracos.

PS - Registro, antes tarde, que a ação brutal dos assaltantes deixou sequelas irreversíveis no cabo PM Jeferson Luiz Esmeraldino durante ataque ao quartel do 9º BPM.
 



 
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