Um Brasil prestes a ser redescoberto
Período pré-cabralino aguça curiosidades
14 Novembro 2018 | Quarta-feira 18h30
Se eu tivesse lido esta definição na capa de trás de 1499 - O Brasil antes de Cabral, de Reinaldo José Lopes, teria comprado o livro na hora.
Não li e comprei igual porque o período pré-cabralino sempre aguçou minha curiosidade. A leitura foi além das minhas expectativas.
Descobrir somente agora que no Brasil central havia cidades - no sentido urbanístico - com ruas, quadras, hierarquias e populações acima de capitais europeias deu um loop na minha alma americana.
A seriedade autoral torna Reinaldo refém de uma narrativa às vezes cansativa para quem não está habituado à pesquisa arqueológica.
Muito a propósito e para "dar fé" à obra (Harper Collins, 2017), a definição na abertura deste texto é do arqueólogo Eduardo Góes Neves, da USP.
Reinaldo, contudo, não descura o público leigo. Sempre que a terminologia roça a chatice, ele toma o leitorado pela mão com uma translação coloquial e por vezes bem humorada.
Eu, apaixonado como tantos pela misteriosa e envolvente temática acerca das civilizações mesoamericanas e seus vizinhos ao sul (maias, astecas e incas), balancei ao fechar o livro.
Quem me dera ter 20 anos pela frente para conferir o que a arqueologia high-tech a bordo de satélites irá perscrutar e revelar dos subterrâneos da nossa América. Quem sabe compense parte das perdas no incêndio do Museu Nacional do Rio.
Não deixa de ser, aliás, tragicamente irônico que nas dedicatórias, o autor inclua a "profecia" de J.R.R. Tolkien: "Das cinzas um fogo acordará, uma luz das sombras surgirá."
Reinaldo, matreiro que só ele, apenas nos abre a porta deste imenso laboratório continental. A frase virou clichê há décadas, mas segue atualíssima: quem viver, verá... um Brasil desaparecido juntar-se a quem há muito sumiu.
Ou, como prefere Reinaldo também nas dedicatórias: a quem estava aqui antes de nós e nunca foi embora.
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