A cena interior, o silêncio das palavras que reverberam
Lembranças tênues ressurgem de sensações olfativas
27 Janeiro 2021 | Quarta-feira 14h22
Carlos Stegemann / Especial *
Desconheço se é possível escrever em silêncio, na mais ampla acepção, como se as palavras não representassem qualquer som.
Contudo, essa foi a minha sensação diante do livro "A cena interior", do francês Marcel Cohen (Editora 34, 2017), com tradução de Samuel Titan Jr.
Cohen é filho de judeus turcos que imigraram para Paris, pouco antes da II Guerra Mundial e, quando tinha pouco mais de cinco anos, teve os pais, avós, tios e a irmã de poucos meses deportados para Auschwitz, o mais célebre dos campos de concentração nazistas.
As lembranças são tênues e Cohen as reconstrói a partir de sensações olfativas, frases esparsas, algumas fotos, objetos de uso pessoal - e vagas, mas marcantes convivências.
Cohen é um detetive literário, com pena de poeta. Escreve em silêncio, mas as palavras reverberam. O texto é comovente e doloroso, em proporções superlativas. A maior lição é a de imergir na dor de famílias definitivamente dilaceradas pela perversidade humana.
Nos condoemos quando nos deparamos com imagens dos comboios ferroviários que levavam pessoas em condições piores que o transporte de gado, na direção do flagelo extremo ou da morte. No entanto, é o sofrimento amiúde, descrito com lupa, que nos aterroriza.
DO MESMO ARTICULISTA
Lições de Oswaldo Cruz na deliciosa prosa de Scliar
* Jornalista
Desconheço se é possível escrever em silêncio, na mais ampla acepção, como se as palavras não representassem qualquer som.
Contudo, essa foi a minha sensação diante do livro "A cena interior", do francês Marcel Cohen (Editora 34, 2017), com tradução de Samuel Titan Jr.
Cohen é filho de judeus turcos que imigraram para Paris, pouco antes da II Guerra Mundial e, quando tinha pouco mais de cinco anos, teve os pais, avós, tios e a irmã de poucos meses deportados para Auschwitz, o mais célebre dos campos de concentração nazistas.
As lembranças são tênues e Cohen as reconstrói a partir de sensações olfativas, frases esparsas, algumas fotos, objetos de uso pessoal - e vagas, mas marcantes convivências.
Cohen é um detetive literário, com pena de poeta. Escreve em silêncio, mas as palavras reverberam. O texto é comovente e doloroso, em proporções superlativas. A maior lição é a de imergir na dor de famílias definitivamente dilaceradas pela perversidade humana.
Nos condoemos quando nos deparamos com imagens dos comboios ferroviários que levavam pessoas em condições piores que o transporte de gado, na direção do flagelo extremo ou da morte. No entanto, é o sofrimento amiúde, descrito com lupa, que nos aterroriza.
DO MESMO ARTICULISTA
Lições de Oswaldo Cruz na deliciosa prosa de Scliar
* Jornalista