Pau no Burro, lição de um passado tão presente

Aula cívica no Carnaval de 64 durou pouco

17 Maio 2020 | Domingo 10h44

Voz corrente no nordeste brasileiro no século passado, a expressão "pau no burro" equivalia a "pé na tábua" no sul. De tão popular, batizou em 1963 uma marchinha da dupla Braguinha & Radamés Gnattali, cantada por Joel de Almeida no carnaval de 64.

"Vamo' embora, minha gente.Vai ter festa no arraiá. A bandinha vai na frente animando o pessoá", convocava a letra, impregnada de responsabilidade cívica. Tempos difíceis pediam metáforas retas.
 
"Minha gente" era o povo, "festa" a eleição, "arraiá" o país, "bandinha" a democracia e "pessoá", bem, o pessoal era o eleitorado mesmo. "Vamo' embora minha gente que é pra coisa melhorá!", cercava-se de um otimismo tardio.

Os versos antecipavam dois potenciais candidatos à eleição presidencial de 1965, o governador da então Guanabara, Carlos Lacerda, e o ex-presidente Juscelino Kubitschek. Só que o burro empacou ali mesmo.

Como resgata o site Quem Foi que Inventou o Brasil, a "bandinha não foi muito longe. Menos de dois meses depois do carnaval, veio o golpe militar de abril de 1964" e duas décadas sem eleição presidencial.

Numa época de enervante amnésia política como a atual, não custa recorrer à nossa memória musical. Para lembrar, quem sabe, que em outros tempos e sob acordes de bandinhas, era justo o burro que sabia para onde nos levar.

(Fonte: Quem Foi que Inventou o Brasil )
 
 
 
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